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Empréstimos na pandemia têm alta demanda entre pequenas empresas

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24/06/2020
Empréstimos na pandemia

No Brasil, a crise causada pelo novo coronavírus provocou forte queda nas vendas dos microempreendedores individuais (MEI), das microempresas (ME) e das empresas de pequeno porte (EPP), o que compromete o financiamento do capital de giro dessas empresas. Diante desse cenário, a demanda desses negócios por empréstimos na pandemia deve elevar para R$ 472 bilhões a necessidade de recursos desses tipos de negócio em 2020, um montante 75% maior que os R$ 270 bilhões concedidos em 2019, segundo levantamento do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGVcemif) divulgado em 23 de junho.

A demanda por crédito empresarial na pandemia acontece justamente em um momento em que o sistema financeiro tradicional também reduz a sua oferta, devido aos riscos e incertezas.

Segundo o estudo do FGVcemif, a lacuna estimada entre a demanda potencial de crédito por essas empresas e a oferta anual por parte das instituições financeiras é da ordem de R$ 202 bilhões.

Como os pesquisadores chegaram aos dados de empréstimos na pandemia

Para chegar a esse valor, os pesquisadores usaram dados públicos de fontes como Sebrae, FGV e IBGE, além de estudos anteriores sobre o tema, e mapearam os tipos de empresas – 9,8 milhões de MEIs, 6,6 milhões de MEs e 900 mil EPPs – e os setores econômicos nos quais elas atuam, como comércio varejista (28,5% do total), indústria de transformação (9,6%), alimentação (9%) e serviços pessoais (8,5%). A partir daí, estimaram o faturamento das empresas por setor e a queda média desse faturamento por conta da epidemia.

A estimativa do crédito empresarial necessário para financiar o capital de giro das empresas levou em consideração que a necessidade de investimento de cada setor é diferente, variando conforme suas características operacionais. Com base em estudos de economias emergentes, essas necessidades foram classificadas em três faixas: alta (30% do faturamento), média (20% do faturamento) e baixa (15% do faturamento). Por fim, esses dados foram cruzados com a queda de faturamento de cada setor.

Considerando o total de 17,3 milhões de empresas – entre MEIs, MEs e EPPs -, chegou-se a uma demanda de crédito da ordem de R$ 472 bilhões que, subtraída dos R$ 270 bilhões concedidos pelo sistema financeiro em 2019, tem-se a demanda não atendida de R$ 202 bilhões.

Cenários pessimista e otimista alteram demanda por empréstimos na pandemia

A análise foi ampliada para outros dois cenários – um otimista e um pessimista. No primeiro, todos os setores têm queda de faturamento 10% menor do que a estimada inicialmente (cenário-base), o que produziria uma demanda não atendida de R$ 116 bilhões. Já no cenário pessimista, em que os setores registram uma queda de faturamento 10% maior em relação ao cenário-base, isso aumentaria a lacuna para R$ 289 bilhões.

Outra simulação foi realizada levando em conta os dados dos três primeiros meses da pandemia (março, abril e maio de 2020). Somente nesses três meses a demanda não atendida ficaria em R$ 57 bilhões, variando de R$ 35 bilhões a R$ 79 bilhões, de acordo o cenário mais otimista ou mais pessimista.

Segundo Lauro Gonzalez, coordenador do FGVcemif e um dos autores do estudo, as empresas de pequeno porte, sobretudo MEIs e microempresas, já sofriam com a falta de crédito para CNPJ em condições normais de mercado, o que foi agravado agora. “O crédito é importante para essas empresas resistirem, pois elas podem se ajustar fazendo demissões, o que aumenta o desemprego num momento já de crise e recessão.”